CNJ integra Projeto Aproxima ao Manual de Boas Práticas em Ações Coletivas (22/10/2025)

O Projeto Aproxima, da Justiça Federal do Paraná (JFPR) – Justiça Itinerante – Reduzindo Distâncias, Viabilizando Direitos –, foi incluído, em setembro deste ano, no Manual de Boas Práticas em Ações Coletivas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na seção de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.

A primeira edição do manual foi publicada em 2023, após a Jornada de Boas Práticas em Tutelas Coletivas. O evento, promovido pelo CNJ, reúne inúmeros especialistas, inclusive da JFPR, para debater e difundir experiências voltadas à solução, prevenção e gestão de conflitos coletivos. Vários magistrados da Justiça Federal do Paraná fazem parte desse projeto e relataram suas experiências. 

Capa do manual do CNJ. Foto: ReproduçãoUma das idealizadoras do Aproxima, a juíza federal Luciana da Veiga, afirma que o diferencial da iniciativa está no fato de não funcionar apenas como uma justiça itinerante, mas de buscar a efetiva participação e integração com os demais órgãos, a implementação de políticas públicas e a prevenção da judicialização desnecessária. O projeto realiza escuta ativa e étnica junto à comunidade visitada, promovendo um diálogo aberto entre esta e os órgãos participantes, para a efetivação de direitos individuais e coletivos. As instituições envolvidas se organizam para oferecer uma resposta efetiva e dialogada: propostas e encaminhamentos são construídos de forma conjunta, com participação ativa da comunidade, e posteriormente acompanhados pelo projeto.

A juíza federal Marize Cecília Winkler, uma das coordenadoras do Projeto, acrescenta que o Aproxima se ancora em uma concepção ampliada de acesso à Justiça e aos serviços públicos. As equipes, ao se deslocarem para territórios vulneráveis e de difícil acesso, possibilitam que comunidades diretamente afetadas tenham voz, criando espaços de escuta qualificada, nos quais demandas ambientais, muitas vezes invisíveis nos grandes centros urbanos, ganham centralidade. 

Segundo a magistrada, a atuação integrada com órgãos parceiros, como Ibama, ICMBio, Instituto Água e Terra, Ministérios Públicos Estadual e Federal, SPU, Copel, Sanepar, universidades e prefeituras, permite encaminhamentos ágeis, tanto para medidas de proteção como para ações educativas e preventivas. Ela explica que as equipes itinerantes buscam se aproximar respeitosamente, valorizando saberes tradicionais e garantindo o protagonismo comunitário. O projeto atua como uma ponte entre os órgãos públicos e as comunidades, viabilizando a regularização de territórios, a proteção cultural, o acesso a benefícios sociais e a emissão de documentos públicos, entre outras ações voltadas às necessidades locais e à melhoria da qualidade de vida dessas populações.

Winkler observa ainda que, durante as escutas, emergem relatos de violências ambientais e sociais sofridas por essas comunidades — desde a contaminação de rios e mares e acidentes ambientais, que geram indenizações até a perda de espaços de pesca ou coleta, além de referências a construções irregulares, desmatamento, cortes de árvores sem autorização e criminalização das atividades de subsistência. O projeto oferece caminhos institucionais para transformar esses relatos em ações concretas de proteção e solução de demandas.

Já o juiz federal Flávio Antônio da Cruz, atuante na Vara Especializada Ambiental de Curitiba, ressaltou a importância do encontro de magistrados e magistradas com as comunidades. “Não raro, a distância entre as estruturas judiciais e as pessoas atingidas por suas decisões não é apenas geográfica. É simbólica.”

De acordo com o magistrado, a tradição jurídica impõe um conjunto de rituais, insígnias e linguagens destinadas a reforçar o caráter quase mitológico da busca pela Justiça. As vestes talares, os pronomes de tratamento – “excelência”, “doutor (a)”, “meritíssimo (a)” –, as liturgias e jargões acabam por fortificar o sistema judicial, criando fossos ao invés de pontes. “Em sua concepção, o Aproxima viabiliza o contato entre os diversos setores do sistema de solução de conflitos e as pessoas que costumam permanecer à margem da estrada rumo ao progresso. O projeto permite que o sistema jurídico se apresente e se faça compreender, demonstrando zelo pelos interesses dos sujeitos destinatários dos serviços prestados pelo Estado”, ressalta.

A juíza federal Luciane Merlin Clève observa que o Projeto tem impactado a prática jurisdicional, ao promover encontros que transcendem o jurídico e alcançam o humano, levando à reflexão sobre diferenças culturais, saberes tradicionais e modos diversos de viver e resistir.

“Essa vivência nos transforma — não apenas como magistrados, mas como pessoas — porque passamos a nos voltar para o outro com mais curiosidade e cuidado. As instituições se fortalecem quando se abrem ao diálogo, reconhecem as pessoas em sua dignidade e constroem pontes entre o Estado e quem mais precisa dele.”

Guilherme Roman Borges, também coordenador do Projeto, para além do já mencionado por seus pares, destaca outro diferencial: o cuidado antropológico, desenvolvido com apoio de professores acadêmicos, voltado ao respeito às etnias e culturas distintas da hegemônica, o que exige preparo específico e uma forma de interação mais horizontal e menos assistencialista.

O diretor do Foro da JFPR e coordenador do Aproxima, José Antônio Savaris, destaca que a atuação nas ilhas mais isoladas do Litoral do Paraná, pertencentes aos municípios de Guaraqueçaba e Paranaguá, marcou o início de uma experiência conjunta de atendimento itinerante das mais diversas entidades públicas. Segundo o magistrado, ainda há espaço para aprimoramento e ampliação das ações, com vistas a alcançar localidades de difícil acesso e populações vulneráveis situadas em áreas de preservação ambiental no interior do Estado, consolidando o compromisso da ação com a sustentabilidade e a proteção dos territórios tradicionais.

Na prática, a iniciativa demonstra que a proteção da biodiversidade e da sociodiversidade caminham juntas e há a possibilidade de soluções dialogadas entre órgãos públicos e sociedade. Defender a floresta, o rio e o solo é também defender as comunidades que neles vivem — e vice-versa.

*A reprodução do conteúdo é autorizado desde que sejam atribuídos os devidos créditos à JFPR.

Núcleo de Comunicação Social da Justiça Federal do Paraná
COMSOC|JFPR – imprensa@jfpr.jus.br

O Aproxima existe desde março de 2024 e já atendeu milhares de famílias de comunidades vulneráveis
O Aproxima existe desde março de 2024 e já atendeu milhares de famílias de comunidades vulneráveis (JFPR)

Atendimento dos servidores do INSS no Parque do Mate, em Campo Largo
Atendimento dos servidores do INSS no Parque do Mate, em Campo Largo (JFPR)

Aproxima em visita recente a Guaraqueçaba
Aproxima em visita recente a Guaraqueçaba (JFPR)


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Equipes do Aproxima na comunidade de Sutil, na região de Ponta Grossa
Equipes do Aproxima na comunidade de Sutil, na região de Ponta Grossa ()


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